terça-feira, 12 de abril de 2011

Sonho Rápido.

Acordo. Estou banheiro do Santa Teresa.
É um sonho, penso. Afinal, encerrei meus estudos de ensino médio em 2008 (não faz tanto tempo, mas, pra quem só viveu vinte, três anos é muita coisa). Resolvo aproveitar do sonho, ver o que meu inconsciente guardou para mim.
Olho-me no espelho: sou o mesmo magrinho cabeludo de antes. Minhas costas curvadas, meu rosto oleoso, minhas unhas mal cortadas, minha farda mal-cheirosa. Sou eu, EU, como eu mais tive orgulho de ser-me!
Vou até minha sala, encontro todas as pessoas de antes: quem já morreu, quem já  engravidou-se, quem já tem emprego de carteira assinada, quem seguiu a vida, enfim. Mas uma pessoa se levanta: Ludmilla!
 Sempre a vi como uma espécie de entidade, de forma que toda e qualquer lembrança que eu tenha dela alcanço seu rosto em nível maior ao meu.
Um anjo com asas de demônio, que as põe à mostra.
Alguns sonhos fazem mais do que entreter uma noite de sono. Não estou pronto para falar deles, mas deste exatamente. Este sonho é um daqueles sonhos inimigos, que tentam a todo custo vencer a realidade, mesmo que tenha de morder-lhe as pernas.
Neste, que mesmo mostrando-se sonho confunde não minha mente (que revelou a ilusão) mas meus instintos, busco a cadeira que estaria sentado, antes de encontrar-me sonhando.

 Sonhar é acordar no sonho. Acordei no banheiro.

- Não és tu não, és? Perguntou Ludmilla, como quem pairasse por sobre minha cabeça.

 - Como assim não sou eu, eu sou eu! Respondi, procurando no tato a certeza de minha resposta.
- Não. Que é tu és tu, mas és tu mais velho. Tu estás mais calmo, sem pressa.

Eu lembrei como meu coração batia rápido na época da minha adolescência. Parecia que meu peito ia explodir em qualquer momento. Ele não batia mais assim, não agora, mesmo nesse corpo ossulento de sonho.  Essa mulher, que assim era quando éramos meninos, voa com suas asas de inferno e vê que o sangue me corre mais devagar, de fato.
Penso. Pensar sobre o sonho é começar a acordar.
Acaba-se simplesmente como começou: em tons de azul. Tais tons, uma cortina. Mas uma cortina que eu não sei bem quando abriu, e nem me dou conta de que já fechou.
Acordo. Meu coração tem uma triste saudade (e minhas costas doem feito a puta que pariu, preciso mandar consertar essa cama).


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