segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Muxima


Vem-me pesado o sucesso do outro. Vem-me ferido o riso do outro; Vem-me definhando a sede pelo sangue de quem quer que seja. Tolices, ou a linhagem portuguesa me chama, a voz do povo do mar emerge em meu coração.


 A voz. Um único dó da boca de Deus. A voz de uma língua que é minha mãe metafísica, advinda do sangue formador de minha mãe material, herdeira do povo que destinou minha pátria à exploração, assim como aos ascendentes do meu pai, das terras de além mar, da língua que desconheço. Até chegar a mim, um bosta que se incomoda com a alegria de quem não ama.



Zungo, Nkadi-o-Mpemba! Zungo!
Admito minha cobardia! Aceito-a como a preguiça de tomar banho, e a admito!
Kindala kiá kondé!




Parece-me mais claro, por hora, que a revolução virá do homem que não almeja ser mais do que é, mas daquele que busca descobrir a si mesmo.  Não digo nenhuma novidade para fora, mas pretendo falar palavra para dentro de quem a ouve. Eu também tenho voz! A voz que é filha dos assassinos que cheiravam a fezes e viajavam sobre a madeira; e do povo que vivia sua vida de riqueza e miséria, como qualquer outro, e aprendeu e ensinou a viver como vivemos, muitos, por estas terras.





Mas para tudo o que eu perdi tempo escrevendo, podia ter dito muxima.