quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Bruxa Boa Do Oeste e Os Sapatos de Rubi

O mesmo olhar de ódio, de preservação da própria existência, que pensei ter inventado (numa tarde de pensamento),me atingiu os olhos, ainda agora, e por pouco tempo.

            Fui substituído, integralmente? Não acreditei que minha permanência àquele lado tenha sido como uma persona. 

Mas a postura era a mesma, a respiração devia ser a mesma.

O olhar era idêntico.

Senti (ou pelo menos sinto, cá em minha lembrança de ainda agora) o mesmo reconhecimento de inferioridade, aliada à desconsideração “educada” aos abusos e aos equívocos que emergiam, vez por outra, daquela que tinha seu lado ocupado pelo novo dono do olhar assassino. Olhar que tentou (e tenta ainda, noto) fazer com que os olhos bastassem, antes dos dentes e dos punhos.


Não o julgo, meu irmão. Já estive neste lugar, vesti a mesma roupa e sentimento, e digo isso com sincero orgulho, como o orgulho de um náufrago que conta sua história.

Aprenda! Resista! E perfure com seus olhos todo aquele que ameace seu conforto futuro (sempre e sempre futuro). E olha que, se me permites, já adianto que te banharás no sangue dos incautos futuros amantes, assim como tu.

Ao final, não desejo a ti nada além do que boa sorte. Vejo-te cá do outro lado, um dia. E quando te perfurarem os olhos, num futuro próximo, serás outro. Bem outro.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Quintana às costas


Desde sempre, tive vontade de escrever sobre ti. A cada dia passado, fui me perdendo nas coisas que escreveria. Achei então uma saída, enfim: Escrever para ti.

Sei que vais se esforçar para entender o que não estiver claro, e por isso vou escrever de uma vez, sem demora. Haja visto que cada segundo que paro outras enxurradas me ocupam. 

Bem, não poderia dizer que estivemos longe um do outro, a geografia sempre nos favoreceu. Acontece que o encontro, para mim, não poderia haver de ser imaturo, pois minha candura, flor de pétala fina (e para tantos inexistente), rasgar-se-ia se te visses de maneira diferente à forma que se deu. O que se poderia pensar como um presente do universo, bem embalado e bem entregue, que serias tu, na verdade poderia ser (e me apraz pensar dessa forma) um choque, um choque entre partículas que talvez nunca se deveriam chocar, sabe-se lá o que acontece quando estas partículas se chocam...

Explosões, múltiplas, seria a minha resposta. Das partículas que encontrei no universo, és a mais bela, mais justa e em tempo mais certo.

Nosso conhecer é o conhecer do redor. Amar a mim é amar a eles, certo? Quero que conheças alguém, acredito que aquele nunca me apresentaste. Então é por isso que falas assim, nunca conheci alguém melhor nisso do que ela. Olha, olha, escuta, lê, joga, sente, para. 

Toma minha mão e me apresenta todos, e eu humildemente de apresento um, e mais um, e mais outro, sem nunca esquecer dos poetas que nos transportam.

Meu amor por ti é brasa, como todos os outros deste país que leva esse nome. Mas ele é melhor, porque é meu. E basta.

Somos resultado da beleza entrópica do universo. Isso é Química II.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Muxima


Vem-me pesado o sucesso do outro. Vem-me ferido o riso do outro; Vem-me definhando a sede pelo sangue de quem quer que seja. Tolices, ou a linhagem portuguesa me chama, a voz do povo do mar emerge em meu coração.


 A voz. Um único dó da boca de Deus. A voz de uma língua que é minha mãe metafísica, advinda do sangue formador de minha mãe material, herdeira do povo que destinou minha pátria à exploração, assim como aos ascendentes do meu pai, das terras de além mar, da língua que desconheço. Até chegar a mim, um bosta que se incomoda com a alegria de quem não ama.



Zungo, Nkadi-o-Mpemba! Zungo!
Admito minha cobardia! Aceito-a como a preguiça de tomar banho, e a admito!
Kindala kiá kondé!




Parece-me mais claro, por hora, que a revolução virá do homem que não almeja ser mais do que é, mas daquele que busca descobrir a si mesmo.  Não digo nenhuma novidade para fora, mas pretendo falar palavra para dentro de quem a ouve. Eu também tenho voz! A voz que é filha dos assassinos que cheiravam a fezes e viajavam sobre a madeira; e do povo que vivia sua vida de riqueza e miséria, como qualquer outro, e aprendeu e ensinou a viver como vivemos, muitos, por estas terras.





Mas para tudo o que eu perdi tempo escrevendo, podia ter dito muxima.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Para além dos lírios que plantei (Em meu jardim)

Acho que demorei tempo demais para me dar conta que eu é que sou o “para-além”.  Para além de tudo o que eu vejo, sinto e choro, para além da barragem do bacanga. 

Sem ironias desta vez, das poucas vezes que me vali desta. Não vim chorar minhas mágoas, que não são poucas, mas pensar junto (que é o único jeito que eu conheço) em qual seria a saída para a minha universidade. Mas peço licença para imaginar a vaga possibilidade de que o posicionamento que tomo, qual se pretende integrador e ético, seja moralmente aceitável. E sobre a ironia usada, foi a derradeira.

Meu nome, meu código de matrícula, minha rotina e meu futuro, nas mãos de Nn pessoas. Se eu fiz uma brincadeira na aula? Se eu fiz uma brincadeira fora da aula? Se eu prefiro Abraham Lincoln a Fidel Castro? É esse tipo de coisa que me preocupa. Nota, nota mesmo, inventa-se.

Há pouco tempo, dentro da universidade, houve o que muitos viram como um conflito bipartite dentro do curso. ‘Contra’ mim, estava um (01) dos companheiros que mais prezo. Ao meu lado, quem poderia estar diametralmente oposto. E mesmo assim, tamanha era minha vontade, tentei fazer aquilo que nunca consegui. Tentei mudar, trazer a discussão, romper o marasmo do curso sobre a idéia de Direito e Universidade. Enfim, regar os lírios de uma esperança. Não foi desta vez.

Como já disseram à época, “pra quem reclamava de marasmo no curso de Direito, aquilo ‘tá parecendo o Oriente Médio”. O que se esqueceram de dizer: O perigo mesmo era pra quem palestinava.

Assembléias, debates, filmagens, provas imaginárias e covardia foi a minha impressão em um ano inteiro de universidade. A evolução de problemas pequenos quais “eu não concordo com as cotas”, “eu sou o responsável por quem passa em minha ‘cadeira’”, “de 2007 para cá o nível das turmas têm caído consideravelmente”, levaram o curso de Direito ao que conhecemos hoje.

A injeção de medo que nos dão, sempre que há oportunidade, terá efeito colateral. O veneno que nos empurram goela abaixo nos fará regurgitar. Não nos esperam, não nos respeitam e não nos guardam honra. Por hora.

Sou um homem que por demais pende ao messianismo, mas esse não existe nesta mesopotâmia. A mudança não virá de mim, que tolice a minha pensar isso: a mudança é a reação natural da força deles mesmos. A repulsa pelo “quem indica”, a má fama do “puxa saquismo”, a clara insatisfação pessoal e profissional quais somos vitimas diretas.

Sobre as terras bacangais não vejo outra coisa a dizer:

Meus amores, apedrejem essas mãos vis que vos afagam, escarrem nessas bocas que vos beijam.

"Em cima do medo coragem, recado da Ororubá."

domingo, 31 de julho de 2011

Historinhas [2]


 - Quem cria expectativa, se decepciona, disse a pequena velha sentada do outro lado da mesa.


 - Me parece que a senhora não entendeu, eu não quero ouvir ditados, quero que a senhora diga meu futuro!


- Pois é.

domingo, 10 de julho de 2011

Espelho






Eu

Sei

Teu

Sofrimento












quinta-feira, 23 de junho de 2011

Sempre Humesmo


Escrever para que ninguém leia. Escrever como terapia.

Ninguém é merecedor de ouvir meus devaneios que julgo inteligíveis. Outro dia, conversando com um amigo inteligente, esbocei a idéia de que conceber o demônio (partindo do pressuposto da existência de Deus e o Demônio, claro) como o cara mau e Deus como o cara Bom não faz sentido, porque os dois seguem o mesmo regulamento, não protegem nem destroem o universo. Um premeia (nessa eu vou com Angenor) a bondade, outro pune a maldade.

“Tá certo, mas qual o objetivo disso?”

Uma pergunta que eu deveria ter feito. E todo o meu pensamento mostra-se no que foi desde o início: adubo.

Nem digo que minha idéia foi como veneno, e somente a partir dele é que encontraria antídotos, ou qualquer outra verdade útil assim.

A disciplina, aquilo que desde meus primeiros dias ouvi e tive como a estupidez, o “artifício dos que não sabem ser criativos”, dos imbecis dos exércitos, dos padres “que perdem seu tempo procurando quem não existe”, ou pior, dos religiosos em modo geral que “organizam o crime de charlatanismo mais tradicional já visto”, é o que eu preciso.

A falta de disciplina me faz escrever um aposto que separa os núcleos da minha frase em quatro linhas. A disciplina é o que eu preciso.

Será mesmo? À porra com a disciplina, não sou um soldado. E se o fosse, um soldado só não faz verão.

É, para mim, ser soldado é uma ofensa, mormente quando não há guerra. Mas se uma houvesse, eu seria um soldado orgulhoso, que pensaria nos próximos poemas a escrever, mas morreria bem antes disso.

Bem antes.

Talvez nem reconhecessem meu cadáver, e quem quer que tivesse sido meu algoz não saberia quem fui eu.
Ou saberia, “esse bosta nunca foi ninguém”.

“Vai ver é um daqueles porras que escrevem pra ninguém ler, escrevem como terapia.”

Se eu for pra guerra, quero que seja por uma coisa que eu concorde. E quero estar do lado que ataca. Por conveniência, eu acho. E para estar do lado da práxis revolucionária, ou quase isso.

Se eu morresse na guerra bem antes de pensar nos próximos poemas a escrever e meu cadáver não fosse reconhecido porque eu sou um bosta que nunca foi ninguém, graças a ter sido um daqueles porras que escrevem para ninguém ler, como uma terapia, eu queria que alguém lesse isso.

Não me mataria, não morreria com orgulho, não viveria feliz, não viveria triste. Humesmo.