quinta-feira, 7 de abril de 2011

ADAN

Fui chamado de “nada”. Não de forma pejorativa, mas constatativa. Ou talvez também pejorativa, mas não vem ao caso. Ao caso de que eu não sou nada, de fato.
Não um “nada” como Álvaro, que na pessoa de Fernando se reconhecia, muito menos o “nada” que figurava como TODO o esplendoroso pensamento de Sócrates. Nada, simplesmente.
Mas não me console com o olhar por tão pouco, leitor amigo, minha mágoa atravessa a injúria. Ora vejam, se para figuras (que, antes de figuras serem, seres foram) como às citadas o “nada” era o que tinham claro como coisa, para mim o “nada” me machuca.
Se “nada” pode me machucar, imagine “alguma coisa”.
Ao mesmo tempo, uma mania de grandeza sobe minhas veias e desce minhas artérias, me dando a certeza de que tudo aquilo que planejo dar-se-á como existente. Sinto, de minha parte, uma necessidade do mundo de me ter como ser de meu tempo, pois sem minha ilustre presença meu tempo não seria o que deve ser. Percebo, na dança dos ventos e das coisas que não dançam, uma conspiração para meu sucesso. Vejo, nas pessoas e eventos que me atrapalham, obstáculos que servem unicamente para fortalecer-me, ensinar-me, fazer de mim mais digno de meu nobre destino.
Ao mesmo tempo, discuto a favor da inexistência de deus, sempre que posso. E carrego, em minhas respostas, aquela que responde o “por que as coisas [da natureza] podem ser tão perfeitamente coordenadas se não foram feitas por um criador?”. A resposta é que se assim não o fosse, não existiria nada. Sendo a coordenação aquilo que sustenta a existência, e observando-a a ponto de podermos constatar: existe, então não há dúvida de que existe a tal “organização perfeita”, resguardada pela intransitividade do verbo existir.
Eu, um “nada”, detentor das respostas do universo. Eu, um “nada”, centro da existência de meu período. Para mim eu sou o universo, porque sou eu que me sinto. E por que me dói ser “nada”, quando para Sócrates o “nada” era não só o que bastava, mas era o que lhe sustentava?
Vamos então (na ilusão de que referir-me a mim mesmo no plural faz do meu objetivo algo mais inteligente) ver-me como o “nada” que sou. Mas, se não me falha a imaginação, não consigo me desligar da idéia de que, de fato, eu sou alguma coisa.
Sempre me vi como um dos gênios das mansardas dos quais a história não guardará nem o estrume. Com a diferença de eu não ser gênio, ainda que more nela. Quanto ao estrume, penso depois.
Na conclusão, quero dizer que não sou nada. O que me faz entender Tabacaria, enfim. EU NUNCA SEREI NADA. Malditos intérpretes e suas leituras de tônicas erradas! EU NÃO POSSO QUERER SER NADA! Escrever, escrever e escrever. É pouco para provar, para todos, para mim e para ninguém, que eu também sou sublime.

Nenhum comentário:

Postar um comentário