É chegado o tão aguardado momento
A abertura das cortinas
Corram todos e venham ver
Pois vosso artista mudo voltou a falar
Soletra as primeiras palavras dum soneto
"As ilusões peregrinas"!
Sua alegria deverá transparecer
As cicatrizes d'alma que já não há
O artista, no entanto, lê da palma de sua mão
E se já não treme os pulsos e a face,
Deve à soberana força do gargarejo do conhaque
Perpassa-lhe potência de touro na enganação
Preocupa-lhe cometer O Erro, ainda que não o fasse
À honra de sua covardia.
Ressoem os atabaques!
sexta-feira, 18 de julho de 2014
terça-feira, 8 de abril de 2014
Soneto de Paixão
Homens e mulheres que compensam
Própria estupidez com obediência
Mui pobres, exilados da Ciência
Orgulhosos do vazio que ostentam
Laureados por terem bocas alheias
Repetem o Absurdo qual lundú
Já viram a Deus, nunca olharam o Cu
Coniventes aos cantos das sereias
Mestres, de espírito mau ou simples
Usam a Universidade de tanga
E ao Direito, far-se-ão grande fardo
De tanto ouvirdes, quiçá cantaroles
"O Rei estava vestido no Bacanga
Péro yo nunca vi mais belo rabo."
Própria estupidez com obediência
Mui pobres, exilados da Ciência
Orgulhosos do vazio que ostentam
Laureados por terem bocas alheias
Repetem o Absurdo qual lundú
Já viram a Deus, nunca olharam o Cu
Coniventes aos cantos das sereias
Mestres, de espírito mau ou simples
Usam a Universidade de tanga
E ao Direito, far-se-ão grande fardo
De tanto ouvirdes, quiçá cantaroles
"O Rei estava vestido no Bacanga
Péro yo nunca vi mais belo rabo."
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
Como um Jesus Cristo
buscando no carinho maternal da puta
a superação do Édipo,
Encontro-me ridicularizado:
correto, posto, ereto;
para os outros, errado.
Feito o homem que
supera a Esfinge, tamanho
o seu intelecto,
Vejo-me abatido:
velho, magro, ferido;
para os outros, abastado.
E tal qual os dois
que se reconheceram na morte
meros procedimentos de um Pacto,
Escrevo-me certo por linhas tortas:
sem que a métrica me tire o sono, ou que as linhas já
[não comporta
Para os outros, não me importa.
buscando no carinho maternal da puta
a superação do Édipo,
Encontro-me ridicularizado:
correto, posto, ereto;
para os outros, errado.
Feito o homem que
supera a Esfinge, tamanho
o seu intelecto,
Vejo-me abatido:
velho, magro, ferido;
para os outros, abastado.
E tal qual os dois
que se reconheceram na morte
meros procedimentos de um Pacto,
Escrevo-me certo por linhas tortas:
sem que a métrica me tire o sono, ou que as linhas já
[não comporta
Para os outros, não me importa.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Tchái das cinco
“Está
resolvido, estou condecorado por antecipação. Por honra, coragem e
serviços prestados”, Laércio bradava pelo quarto, marchando em círculos. “Se por um acaso, trate-se de mim mesmo
o comandante competente para a cessão desta comenda, resta mais que evidenciado
meu merecimento de tanto! E, ademais, quem melhor que eu mesmo para
conhecer a mim e aos meus trabalhos?”, concluía.
A
cerimônia ficou marcada para o outro dia, ao pôr do sol, defronte
às ruínas da tola igreja dos dominados. A cidade, barulhenta em
sons miúdos, guardava no pó das ruas e nas letras incompreensíveis
de suas placas um passado não tão distante de tempo, mas de
distância infinita no sentimento.
A Rua, agora, só conhecia o Vento, qual, convenientemente, resiste
ao ataque de qualquer projétil. Os dois, graças a súbita inatividade
dos antigos ocupantes, puderam passar as manhãs brincando de jogar o
lixo de um canto a outro, riscar as paredes de outras areias, além
dos charmosos redemoinhos de folha e flores – de sorte que, se a
esta última houvesse espectador, apostaria na grandeza de sua
própria existência no espaço. Pois bem, não havia.
Chegado
o grande dia, Laércio apressou-se: tomou seu demorado banho na
banheira partida ao meio, arrumou seu traje belicoso de gala de única
manga, tomou tchái com sua linda e esquelética esposa, Madara.
Sempre tão silenciosa, sempre tão sentada.
No caminho à praça, deu-se com a Rua e o Vento, mas não se cumprimentaram.
Chegou. Tomou o grito dos abutres por trombetas de anúncio, cuidou-se para pisar no palanque com o pé direito, sacudiu os prateados cabelos que restavam por debaixo do quepe e saudou a multidão de micróbios.
“Ótimo,
aqui estamos mais uma vez”, repetiu Laércio em sua cerimônia de
condecoração. Repetiu tanto, tanto e tão alto que o som das palavras não
lhe faziam mais sentido, mas ao Eco não importava.
Acontece que os treze dias de discurso idêntico trouxeram ao Eco dúvida, e o repentino silêncio de
Laércio não foi percebido pelo Gênio Repetidor.
Tantas
vezes se repetiu, pelas curvas, a afirmação de estar, que estiveram. Todos, mais
uma vez.
Todos,
menos Laércio, que trocara os estertores por beijos endereçados a sua Madara, à janela.
Assinar:
Postagens (Atom)