domingo, 10 de abril de 2011

Bodas de Prata

Quando me vi no mundo, me vi filho de meus pais. A presença deles me salvava da agonia de pensar o que significa estar vivo. Agonia esta que, naquela época, se assemelhava bastante a passar a tarde na natação ou fazer contas de dividir bem na hora do “Johnny Bravo”. Bem, era um menino bem agoniado. E agora, cresci.
Meus pais não mais me obrigam a nadar de um lado pra outro a tarde inteira. Não mais me obrigam a fazer contas que solucionam problemas inventados, não mais me proíbem de assistir a combinação de cores e vozes na televisão, com música ao fundo. Torna-se claro, hoje que minha maior agonia sempre foi a mesma: o que, de fato, significa estar vivo.
Sinto isso como uma espécie de sensibilidade de poeta. A diferença é que essa tal sensibilidade se alojou em um homem comum. Porém me engano. Não foi uma força maior que nos guia que me tornou assim. Não foi uma brisa vinda de outra galáxia. Porém as perguntas de meu pai e as verdades de minha mãe. Não vejo à toa o termo “criação”. Meus pais são os verdadeiros poetas.
É isso o que eu vejo neles. Mas foram eles que me ensinaram a ver. O hábito de olhar os meus braços, deitado no banco de trás do gol verde, e pensar o que é existir, é o que mais me lembra, hoje, que tanto o que eu sou quanto o que penso ser é obra plena de meus pais. Não há mérito para mim, porque este não é meu.
Cresci, e só consegui fazê-lo por imitar aquilo que meu irmão fazia, porque dava certo. Meus momentos de autonomia são os meus maiores erros.
Amo meu pai, amo minha mãe, amo meus irmãos, tanto o feio quanto a bonita. Mas reconheço-me, e com orgulho, como satélite da grande massa que são meus pais.
Boa noite e muito obrigado.

Um comentário:

  1. As duas primeiras frases, brevemente vão figurar numa introdução de algum trabalho bem freudiano meu...quando eu me dignar a escrever mais algum trabalho freudiano!!!

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